After Life

Vi recentemente este filme japones muito bonito. A accao passa-se durante uma semana numa "estacao" entre a vida e a morte. Durante esses sete dias, a leva semanal de 22 pessoas tem de seleccionar uma parte da vida particularmente marcante ou feliz ou bonita que sera a unica memoria da vida terrena que cada um levara consigo na after life. Cabe ao staff da estacao ajudar os recem-mortos a escolher a memoria e escrever o guiao da mesma que sera imortalizada em filme. Uns escolhem rapidamente, outros andam as voltas, cegos, ainda tolhidos pelas regras da sua vida antes. Mas la conseguem. Um decide nao escolher. Outro passa 60 anos a ajudar os outros e finalmente descobre que afinal ha uma memoria que faz sentido levar.

Fiquei logo a pensar que memoria seleccionaria se eu fosse um dos 22. Facil. Eu seria uma entrevistada facil, sem hesitacoes, confusoes ou grandes explicacoes. Tenho entre 2 ou 3 anos. Vivemos na casa da vovo. E domingo, um desses domingos da infancia, cheio de sol, quente, perfeito. Acordo cedo e apercebo-me, em extase, que a minha fralda esta seca. SECA. Dry. As opposed to wet. Nao quero acreditar mas e verdade. Corro descalca pelo corredor fora, atravesso a sala em direccao a casa de banho que fica ao fundo da marquise, a casa de banho "grande" que os pais mandaram construir quando se mudaram para casa da vovo, um casarao enorme mas sem as comodidades modernas do chuveiro, da banheira XL, etc. A marquise esta cheia de plantas, as que eu gosto mais sao as costela-de-adao, de folhas grandes, de um verde brilhante e profundo. O meu pai esta em cuecas (de cor branca), de pe frente ao espelho a fazer a barba (ouve-se o barulho da lamina a passar na cara). E eu planto-me em frente dele e, felicidade a transbordar por toda eu, anuncio a novidade: "a minha fralda esta seca".