Friday, May 29, 2009

Miami-2


Desisti, estomago embrulhado, cansada de tanto focusing, a espera do alivio que custava a vir. Pedi licenca, mas, como a coisa demorava, tirei as sandalias e nem esperei…”saltei” a senhora do meio. Estava no corredor. Estabeleci mentalmente a trajectoria para a cauda do aviao. Queria-me sentar na ultima fila que, por sinal, estava com as mesinhas para baixo, a bloquear as cadeiras. You can’t sit there miss, these seats are reserved for the flight attendants, we also need to rest. Rapidamente percebi que tinha de explicar ao senhor que se nao me deixasse sentar imediatamente, a probabilidade de lhe vomitar a empanada cubana no seu belo uniforme era perigosamente alta. Trouxe-me um copo de ginger ale e duas horas depois ja comecava a acreditar que me ia safar sem estrear os dois saquinhos que entretanto me trouxeram just in case. Tentaram em vao convencer-me a voltar para o meu lugar ate que numa altura de turbulencia mais horrivel, o flight attendant-mor comecou a ladrar ordens para lhe desampararem a loja. La me arrastei e quase quase chegada a minha fila, comecei a chorar. Com as lagrimas a correrem-me pela cara abaixo, voltei a tirar as sandalias, saltei a senhora do meio e aninhei-me no meu cantinho de janela. Mostrava no ecran que estavamos a sobrevoar o Colorado. Liguei o telefone e tirei fotos aos cumes nevados, tao lindos.

Dos livros

"Um belo dia, acordei, sentei-me na cama e sorri. Nao sentia ja dor. E, subitamente, percebi que nao existe a pessoa certa. Nem na terra, nem no ceu. Nem seja la onde for, podes ter a certeza. Existem somente pessoas, e, em todas elas, um pedacinho da pessoa certa, mas em nenhuma se concentra tudo o que se aguarda e dela esperamos. Nenhuma pessoa reune em si tudo isso, nem existe a certa, a unica, a maravilhosa, essa figura singular que nos traz felicidade. Existem somente pessoas, e em todas elas, ha escorias e um raio de luz, tudo..."

Sandor Marai
A Mulher certa

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Wednesday, May 13, 2009

Porque sim...

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Time out...no diving



Hollywood Beach, FL

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Tuesday, May 12, 2009

Momento Ally McBeal

Por uns breves instantes achei que tinha voltado a Miami Beach – um daqueles momentos a la Ally McBeal (a agulha risca o disco e a musica para). Outro flash e estou de novo na sala de conferencias pequenina a apertar a mao da Chief Scientific Officer de uma empresa com a qual estamos tentados a estabelecer uma colaboracao. Talvez por nao ir muito a LA e coisital e por nao estar habituada a ver CSOs tao pra frente, fiquei assim, a mirar-lhe toda a sua pessoa como um burro a olhar para o palacio do rei. Uma burra. Para comecar…os labios: o superior bonitinho, lisinho mas desprovido de qualquer expressao; o inferior exageradamente intumescido, nao combinava com o superior que ainda que imovel, nao chamava a si as luzes gritantes do colagenio. Foi a primeira coisa em que reparei. Mas dai para a frente foi sempre a contar subtraccoes (de pele), somas (de implantes) e iniquilamentos temporarios de nervos marotos que fazem rugas pouco simpaticas. Devo dizer que me irritou profundamente que a ciencia tivesse sido fraquita. Porque se estas transformacoes podem revelar algo sobre quem as faz, nao tem nada a ver com o funcionamento do hippocampus nem do cortex cerebral. Digo eu.

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Monday, May 11, 2009

Miami -1

A empanada cubana de queijo e fiambre que me venderam no café junto a porta de embarque 42 do terminal da American Airways era um bocadinho manhosa de aspecto. Era. Confesso. Ponderei deixa-la no prato quando me apercebi que nao era feita de massa folhada e que as bolhinhas estaladicas que adornavam a crosta brilhante revelavam que a dita cuja tinha passado os ultimos minutos mergulhada em oleo a ferver… mas a fome era grande e o sabor salgadinho, bom, vinha mesmo a calhar depois de uma noite em que comi mal e bebi dois shots de vodka para brindar os ultimos meses de “liberdade” da noiva. Vinte minutos, meia hora mais tarde, ja escolhidos os hors d’oeuvre de uma lista imensa que o hotel enviou, discutidas miudezas e detalhes, a nausea. Depois as idas e as vindas, as voltas e as revoltas, a constatacao que ia entrar num aviao de onde so sairia 6 horas depois, entregue aos caprichos da empanada, incapaz de controlar o nervo vago, esse cigano sem eira nem beira, vadio maldito, sem ponta por onde lhe pegar. E a vesicula talvez a entrar na jogada, outra filha-de-uma-cadela que morde pela calada. Entrei. Calada, vagarosa, a olhar para os pes. As testemunhas do meu estado a frente, juntas e protegidas, despediram-se com um sorriso amarelo enquanto que os meus colegas de fila me davam as boas vindas, sorridentes e placidos, ignorantes do que estava para vir. Ar condicionado no maximo. Apanho uma valente constipacao, que se lixe. Respirei fundo e resisti a descolagem, pressao acima do pulso que faz bem a morning sickness das gravidas, ha-de servir para mim, mas ja agora deixa confirmar que o saquinho esta no bolso em frente ao meu assento…

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