Emporio Armani
Encontraram-se no apartamento. O tal apartamento que nao era uma casa de viver, apenas um espaco de passagem, uma especie de covil seguro para uma quadrilha de homens cool que usam fedoras e fato de tres pecas. Os outros tres falavam como se as palavras custassem milhoes a pronunciar, e, quase sem aviso, algo os fez cair num silencio arrogante de quem esta sempre preparado para o pior…agarraram em meia duzia de objectos e sairam pela porta da frente, furtivos, rapidos. Ela olhou o cone de luz que iluminava a mesa da sala de repente vazia e, percebendo que tambem tinha de se por a mexer, saiu pela janela, desceu a escada de emergencia e, movendo-se lentamente junto as paredes laterais de predio, chegou a rua. Chovia. Chovia imenso e ela so tinha o estupido guarda chuva das flores cor de rosa em fundo branco. Para quem tinha “desaparecer” na agenda, ia dar muito (demasiado) nas vistas. Nao se importou. Abriu o guarda-chuva e mal pos o pe no passeio, pronta para atravessar a estrada, um vulto gritou “E ela!”. Como num filme de accao, cortou a estrada como se do outro lado estivesse a salvacao, mas olhando cada carro, medindo cada distancia como se tudo se passasse em camara lenta. Do outro lado furou, como se fosse um cao, a floresta de pernas de um magote de gente apinhada numa paragem de autocarro e deixou-se ficar um bocadinho, dois minutos no maximo, protegida por rostos e corpos perfeitamente indiferentes ao seu. Foi ai que o viu: tinha um rosto angelico, cabelo liso, castanho, a franja comprida dum risco ao lado…parecia-se com o Cameron mas nao era ele. Vestia umas calcas cargo verdes e um blusao castanho. Ela gostou do seu olhar sereno, ainda que distraido. “Posso ir contigo?” Seguiu-o ate um predio baixo com varandas grandes, acessiveis. Uma outra versao do Cameron esperava (?) e ele ignorou-o. Entraram no apartamento. Era simpatico, simples, tinha uma tapecaria tibetana na parede. O Cameron numero 2 olhava-os do janelao da varanda, de fora, um olhar perdido de quem ali tem estado muitos dias, mas ainda assim imovivel. “Ele ama-te muito”. Encolheu os ombros. “Senta-te, queres tomar alguma coisa?”. “Nao obrigado, eu so queria parar de fugir”. “Entao para”. Antes de poder saborear a simplicidade serena dessas duas palavras, ouviu pancadas na porta. “Nao abras”. Acordou.
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